Estatisticamente falando…

Estatisticamente falando…

Projeto do CCE visa coletar, analisar e disseminar dados sociais relevantes, essenciais para tomar decisões e enfrentar problemas centrais.

O projeto de extensão “BRDATA: Brasil em Dados”, coordenado pelo professor Rodrigo Rossetto Pescim, do Departamento de Estatística (CCE), começou há quase três anos com o objetivo de propiciar acesso à população dos principais indicadores na Economia, Saúde, Educação, Agricultura e Meio Ambiente, através da análise de dados obtidos em fontes nem sempre ou dificilmente acessíveis ao cidadão comum, como plataformas e banco de dados científicos ou mesmo registros públicos. Em vários casos, é preciso pagar para ter acesso.

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Edição número 1419 de maio de 2023
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Em razão da pandemia, o projeto se concentrou nos dados epidemiológicos e outros associados à Covid-19, sua incidência e impactos no âmbito regional. Um dos pontos que levou ao foco foi a detecção de um atraso nas notificações, que refletia na coleta e análise. “Um número de novos internados ontem só seria conhecido hoje ou amanhã”, ilustra o professor. Para construir um cenário e criar projeções – por exemplo, prever o número de leitos necessários na semana seguinte – todo atraso atrapalhava.

Os dados foram coletados das autoridades da Saúde, como a Secretaria Municipal e a 17ª Regional de Saúde, que abrange mais de 20 municípios da região, desde os primeiros registros de sintomas. Os participantes do projeto fizeram as análises, montaram mapas, tabelas e gráficos, que foram inclusive utilizados em apresentações do prefeito e do secretário de Saúde à imprensa. Também foram disponibilizados boletins no Instagram e no Facebook. Além dos dados regionais, também foram coletados e usados dados de outras instituições, como a Fundação Oswaldo Cruz.

 “A pandemia revelou a Estatística. A área cresceu muito neste período”, avalia o professor Rodrigo Pescim (Foto: André Ridão/Agência UEL)

O professor Rodrigo conta que o trabalho reuniu vários grupos técnicos, unindo diversas áreas além da Saúde e Estatística. Um exemplo foi o Ministério Público. O volume de dados era grande e empregado conforme suas características. Alguns ficavam restritos aos grupos para mais análises ou para alicerçar a tomada de decisões no âmbito sanitário ou administrativo, mais tarde divulgadas publicamente. Outros foram liberados para estudos científicos.

Quando começou a vacinação, conta Rodrigo, uma nova linha de pesquisa se abriu, somando-se a outras, que levavam em conta comorbidades, por exemplo. Porém, novamente uma dificuldade se apresenta: o ainda baixo índice de pessoas que procuraram se vacinar.

Este ano, a dengue trouxe novos desafios aos participantes do projeto. O coordenador já prevê muitos dados a serem coletados e analisados para basear as políticas públicas.

Evidência

Para o professor Rodrigo, a Covid-19 colocou o profissional estatístico em evidência, chamando a atenção também para a Ciência, para os modelos matemáticos e as projeções deles derivadas. Ele acredita que os próprios modelos avançaram e novas propostas surgiram para solucionar problemas. “A pandemia revelou a Estatística. A área cresceu muito neste período”, avalia Pescim. Claro, ele lembra que a Estatística trabalha com dados aleatórios, pois na realidade nada é 100%.

Quanto maior o grau de confiabilidade de uma pesquisa, mais próximo do real devem ser seus resultados. Mas há fatores que podem interferir e agir no tempo – um levantamento de dados se refere e reflete determinado momento. O professor exemplifica com as pesquisas eleitorais de 2022, até hoje objeto de discussão e de estudos pelos estatísticos. E há cenários piores: o que fazer se o pesquisado mente? No caso, por exemplo, pela ideia do voto útil.

Entretanto, o maior desafio da Estatística, para Rodrigo, está mesmo na coleta de dados, porque algumas fontes dificultam o acesso ou apenas ainda não dispõem deles. E o raciocínio, neste caso, é simples: quanto mais dados, maior a qualidade da avaliação do impacto, seja de uma doença, de casos de violência, evasão escolar, desemprego, desmatamento, fome, falta de habitação ou qualquer outro indicador relevante.

Disseminação

Atualmente, o projeto conta com a participação de três docentes e três estudantes de pós-graduação. Foram publicados dois artigos científicos e resultados foram apresentados em eventos, como o Simpósio de Extensão da UEL (Por Extenso), além de conferências e palestras a convite da comunidade.

Rodrigo observa, ainda, que a UEL tem interesse em criar uma graduação em Ciências de Dados e Inteligência Artificial, a partir da Matemática Aplicada, Computação e Estatística, e das Ciências Humanas. A proposta foi aprovada em todas as instâncias da UEL e prevê a abertura de 50 vagas.

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