Corrida pela saúde

Corrida pela saúde

Projeto incentiva exercícios físicos para pacientes com câncer ou aqueles que já superaram a doença.

Antigamente, pacientes em tratamento de câncer eram orientados a repousar e reduzir as atividades físicas. Sobretudo de dez anos para cá, tudo mudou: estudos comprovam que os exercícios físicos ajudam na terapia, porque reduzem efeitos do tratamento, fortalecem o organismo e, principalmente, ajudam na saúde mental do doente.

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Edição número 1422
de agosto de 2023
Confira a edição completa

O professor Rafael Deminice (Departamento de Educação Física) está na UEL desde 2012, quando começou a desenvolver uma pesquisa sobre a prática de exercícios físicos em animais de laboratório com câncer. O objetivo era criar protocolos que pudessem oferecer atividades seguras aos doentes: quais exercícios, com qual intensidade etc. O estudo foi bem sucedido e gerou benefícios como aumento da força muscular, melhores marcadores da doença e até o desenvolvimento mais lento dos tumores.

As pesquisas em humanos tiveram início há cerca de cinco anos, paralelamente àquelas com animais com câncer de cólon. Uma parceria com o Hospital do Câncer de Londrina (HCL) foi estabelecida e, atualmente, mais de 60 pessoas são atendidas pelo projeto, e perto de 1/3 destas ainda em tratamento de câncer, ou seja, ainda sofrem efeitos como fadiga, alteração de peso, ansiedade, depressão. O projeto atual, “Correndo contra o câncer”, é de 2022, e o professor recebe bolsa produtividade do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) desde 2015.

Em outubro, são promovidas corridas em que participam ex-pacientes.

Exercícios multimodais

Os participantes do projeto são de Londrina e região, de idades e tipos de câncer variados e não pagam nada. As atividades prescritas são monitoradas e avaliadas o tempo todo. São três turmas, que fazem 1 hora cada uma: segunda e quarta (7h), terça e quinta (9h) e terça e quinta (18h). São exercícios multimodais, isto é, abrangem diferentes capacidades físicas e objetivos: força, flexibilidade, coordenação motora e capacidade cardiovascular.

O professor Rafael observa que os pacientes podem levar um acompanhante, o que se torna um fator positivo a mais para o paciente. Tanto que – o coordenador destaca – os ganhos em termos de saúde mental são notáveis. Já foi registrada alguma evasão, mas os motivos são variados. O pesquisador aponta, por exemplo, que em semana de tratamento as faltas aumentam.

Em sua dimensão de projeto de Extensão, o projeto vai além do atendimento aos pacientes. Devido à procura por pessoas e instituições de fora, o projeto desenvolveu um site e perfis no Instagram e Facebook. Segundo o professor, o site cria conteúdos para quem não pode participar do projeto, com artigos, aulas, palestras e outros materiais, seja para um paciente, um pesquisador ou qualquer um que tenha ouvido falar no projeto. Também foi criada uma rede que apresenta, entre outros tópicos, um mapeamento de serviços semelhantes no país. Rafael diz que a maioria dos projetos no país visa o rendimento físico, por isso o projeto da UEL se destaca.

Outra característica extensionista está na dimensão incentivadora da prática de atividades físicas do projeto. É razão e reflexo, por exemplo, dos recursos obtidos pela Lei Estadual de Incentivo ao Esporte (Pr\o/esporte), via Copel, utilizados em pagamentos e aquisição de material. A contrapartida exigida pelo edital é a formação e informações oferecidas. O projeto se inscreveu novamente para o ano que vem.

“Vários pacientes e ex-pacientes do projeto já participaram de corridas e, dentro das circunstâncias, saíram-se muito bem”, relata o professor Rafael Deminice.

Avanços

O projeto tem caminhado junto com os avanços mundiais na área. Rafael conta que, por volta de 2020, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e a Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde, com participação do Instituto Nacional de Câncer (ligado ao Ministério da Saúde), publicaram um Documento Nacional sobre os benefícios da atividade física para ex-pacientes de câncer. Rafael participou da elaboração. Este ano, deve sair o segundo volume, incluindo resultados sobre a prática durante o tratamento. Também a Sociedade Americana de Oncologia Clínica, referência mundial, publicou um Guia de exercícios como parte do tratamento oncológico.

Atualmente, o projeto conta com a participação de cinco mestrandos e doutorandos que desenvolvem pesquisas com animais e humanos, além de três alunos de graduação (Iniciação Científica). Uma novidade é o ingresso de uma aluna do curso de Nutrição da UEL, ainda este ano. A disseminação já rendeu ao projeto vários prêmios, em eventos científicos de diversas áreas, como Educação Física, Medicina, Nutrição, Biologia e Esporte.

Num projeto paralelo, junto com o HCL, são desenvolvidos artigos. O Hospital do Câncer também realiza uma corrida em outubro, mês dedicado às ações de prevenção da doença. Aliás, sobre isso, Rafael conta: “Vários pacientes e ex-pacientes do projeto já participaram de corridas e, dentro das circunstâncias, saíram-se muito bem”. De acordo com o coordenador do projeto, eles têm orgulho de correr, de fazer parte, e de terem se curado.

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