Cavernas sem mitos
Cavernas sem mitos
A pedido da Prefeitura, pesquisadores desenvolvem projetos para mapear, explorar e avaliar potencial turístico de cavernas de Sapopema (PR).Distante cerca de 120km de Londrina, na região do Norte Pioneiro, o município de Sapopema é famoso pelas suas cachoeiras e trilhas. Entre os acidentes geográficos locais, alguns são de especial interesse do professor Angelo Spoladore (Departamento de Geologia e Geomática): as cavernas.
Procurado pela Prefeitura de Sapopema há três anos, que pretende explorar turisticamente as cavernas (turismo espeleológico), assim como preservá-las, o professor criou três projetos: dois de pesquisa e um de extensão. Os primeiros objetivam explorar as cavernas e fazer um mapeamento geológico do município. O terceiro caminha mais lentamente, mas se liga aos outros dois e já foi cumprido parcialmente.
Spoladore dividiu o município em quatro partes, traçando uma cruz no mapa. Começou explorando a metade ocidental, onde já encontrou seis cavernas, e já iniciou as visitas periódicas à metade oriental. Até agora, encontrou duas cavernas grandes, nas quais se pode entrar em pé, e duas em que só se consegue entrar deitado. Elas têm em média 100 metros de profundidade (comprimento) e não são pródigas em estalactites e estalagmites, por não serem carbonáticas, mas de arenito. Ainda assim, o pesquisador encontrou formações curiosas, como círculos no chão e uma em formato de copo.
As cavernas possuem água e abrigam animais, como insetos (grilos), aracnídeos (aranhas e opiliões), répteis (cobras) e mamíferos, notadamente morcegos. Uma jaguatirica pode eventualmente passar por elas, e aves às vezes fazem ninhos na entrada. No interior, também há fungos. Vestígios antrópicos foram igualmente encontrados: machadinhas, facas e outros artefatos que remontam o período da pedra lascada e pedra polida na região.
Geologia paranaense
Uma das formas de contar a História Natural de um território é através dos estudos geológicos. O Paraná mostra uma rica diversidade de formações, que o professor Angelo chama de “pacotes”. A maioria das pessoas sabe falar das serras, furnas, Vila Velha e cataratas do Iguaçu. Em poucos minutos, porém, o pesquisador cita muitos outros nomes, como a Formação Irati, tão grande que abrange todos os estados do sul, e ainda São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul, além da Argentina, Paraguai e Uruguai. Já a Formação Botucatu abrange todas estas áreas e até a África, porque se originou do antigo continente de Gondwana, quando América do Sul e África eram um território só. E há outras, como a Piramboia (PR e SP) e Rio do Rastro (PR e SC).
Ação antrópica
Existe um ditado no meio científico que diz que “o que se estuda se muda”. Ele é aplicável à Espeleologia, pois a simples presença de pesquisadores dentro das cavernas pode modificar o ambiente. A ideia, então, é tentar interferir o mínimo, não deixando nenhum tipo de vestígio, não se alimentando lá dentro. Vale apontar que só de respirar, os seres humanos aumentam a taxa de gás carbônico no local, que pode afetar a temperatura. Assim como simplesmente pisar o chão pode danificar formações. Por isso o tema internacional da Espeleologia diz: “De uma caverna nada se mata, a não ser o tempo; nada se deixa, a não ser pegadas nos lugares certos; e nada se tira, a não ser fotografias”. Daí a necessidade de estudos técnicos para exploração turística e científica.
O professor Angelo Spoladore prevê que o mapa geológico fique pronto em julho. A exploração das cavernas continua – o projeto de pesquisa deve ser encerrado em novembro, mas será renovado. Ele conta com a participação de alunos do curso de Geografia e um doutorando, quase concluindo sua tese, além de três docentes do Departamento de Geologia e Geomática. O projeto de extensão tem cinco alunos, dos cursos de Biologia e Biblioteconomia. Os estudos serão apresentados no Congresso Brasileiro de Espeleologia, em julho.