Trabalho de formiga

Trabalho de formiga

Atividades de extensão levam conhecimento e trocam saberes com escolas e produtores rurais sobre a complexa sociedade das “arquitetas” do mundo dos insetos: as formigas.

Faz um ano que está em execução o projeto “Insetos impactando a sociedade londrinense: oportunidade para ações de extensão dos alunos da UEL à comunidade”, coordenado pelo professor Amarildo Pasini, do Departamento de Agronomia. Porém, faz mais de 15 anos que ele vem estudando especificamente formigas, a partir de demandas de produtores rurais, moradores da zona urbana e exposições agropecuárias.

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Edição número 1429
de abril de 2024
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O professor conta que a paixão por estes insetos surgiu ainda na graduação, quando um dos professores desenhava um formigueiro com detalhes e falava da complexa organização social das formigas. Um exemplo: elas descartam seus resíduos em uma espécie de aterro, afastado do centro do formigueiro.

Formigas são insetos muito bem sucedidos. Com exceção da Antártida e umas poucas ilhas isoladas e inóspitas, elas podem ser encontradas em todas as massas de terra emersas do planeta. Estima-se que haja quase 20 mil espécies (cerca de 2 mil no Brasil), que vivem em colônias que podem ter uma ou mais rainhas, dependendo da espécie, dividem-se em castas conforme sua função (operária, soldado, rainha, jardineira, etc.) e convivem bem com os seres humanos. Aliás, a estimativa é que existam quase 3 milhões de formigas para cada ser humano sobre a Terra.

Pasini lembra que, quando a Companhia de Terras Norte do Paraná anunciou aos potenciais compradores que não havia saúvas por aqui, era verdade. Elas e outras vieram décadas depois, de regiões vizinhas.

“Levamos o conhecimento às crianças para que elas levem aos pais”, comenta o professor Amarildo Pasini (Foto: Agência UEL).

Na avaliação do professor Pasini, o inseto é conhecido, facilmente visualizado, faz parte do cotidiano e não é complicado falar dele à população. Entre as várias espécies estudadas pelo professor, estão a cortadeira e a doceira. A primeira aparece mais na zona rural e possui apenas 1 rainha “É uma praga da lavoura”, comenta, e acrescenta: “Elas podem acabar com um pé de eucalipto ou pinus de 2 metros de altura em uma noite”.

Já as doceiras, com várias rainhas, são aquelas que vão atrás dos restos de comida nos sofás e invadem notebooks nos apartamentos, porque são abrigos quentinhos. Elas podem perceber o alimento a 10 metros de distância, pelas antenas. As cortadeiras podem captar a 100 metros. E existem ainda as carnívoras. O projeto coleta cerca de 200 rainhas por ano para estudos.

E tem os cupins. São conhecidos no meio urbano como uma praga, e não apenas em cenários domésticos. Basta imaginar o problema para os restauradores de imagens sacras, que precisam livrar as peças do inseto e não podem usar qualquer produto para não danificar as obras. Já no campo, eles costumam aparecer em terras pouco ricas. Ainda bem, porque seus “montículos” (muitas vezes com mais de 2 metros de altura) impedem qualquer atividade agrícola. Existem os cupins de árvore e os subterrâneos (99% deles). Podem sobreviver a um calor de 50 graus do lado de fora, porque os tais montículos são um elaborado sistema de refrigeração a ar, tecnologia 100% cupim.

O mercado oferece produtos para ajudar a repelir as formigas, doceiras ou cortadeiras. Produtos de jardinagem amadora ou algumas espécies de gel. Na zona rural, pode ser feito o controle biológico, como parte de um manejo integrado. De fato, o professor salienta a existência de grande quantidade de biofábricas de produtos para este fim, tema que integra a capacitação feita no projeto.

Capacitação

O projeto une Agronomia e Biologia em ações extensionistas. Em seu primeiro ano de funcionamento, o projeto se dedicou em boa parte à capacitação dos estudantes participantes, a fim de que possam atender à comunidade que o procura ou levar o conhecimento a ela. E a demanda, segundo o coordenador, só tem crescido. O projeto já foi a várias exposições agropecuárias, não só a de Londrina (Apucarana e Cascavel, por exemplo), e visitou muitas escolas, inclusive de educação infantil (creches), principalmente a pedido das Prefeituras da região. “Levamos o conhecimento às crianças para que elas levem aos pais”, comenta Pasini. Dois técnicos agrícolas experientes da UEL também participam.

Além da exposição oral dialogada, o projeto leva um banner e um “aquário didático”, uma caixa de vidro com um formigueiro dentro a partir da qual é possível explicar a complexa “arquitetura” da colônia, a função de cada casta, assim como visualizar todas as partes daquilo que normalmente é subterrâneo. Kits didáticos são igualmente utilizados: caixas com insetos mortos, mas preservados, para que todos possam conhecer e diferenciar, por exemplo, a operária, a rainha, a escoteira (sai para procurar comida), a jardineira (que cuida do cultivo do fungo consumido como alimento).

Tem mais: formigas de plástico ajudam a entender a anatomia do inseto, e podem ser manuseados. Formigas vivas são levadas na areia e podem ser observadas. E o professor destaca uma atividade com resultados muito positivos: desenhar formigas. “As crianças gostaram muito”, avalia.

Porém, a estrela da companhia tem sido a “Laurinha”, uma formiga de 2 x 3 metros que já visitou várias feiras, sempre um sucesso. Seu nome vem da união do nome de seu criador, entomologista aposentado no IDR – Insituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (antiga EMATER), Lauro Morales, com Rainha. Com tudo isso, aumentou o número de convites para eventos e pedidos de capacitação de pessoal por Prefeituras. Ao mesmo tempo, não param de chegar as demandas mais específicas, sobretudo dos produtores rurais. O professor Amarildo Pasini observa que o projeto tem a preocupação, na capacitação dos participantes, de personalizar cada atendimento, com a linguagem mais adequada para cada um.

“Laurinha”, que de diminutivo só tem o nome, faz o maior sucesso nas feiras e exposições.

Apesar de o projeto contar mais com estudantes do 3º e 4º anos, Pasini conta que já levou alunos de 1º ano para as escolas, o que se mostrou uma ideia de grande êxito. “Eles têm a informação, só falta selecionar melhor o conteúdo a ser compartilhado”, diz o professor. Assim, diferentes saberes são levados em conta, mas com muito critério. “Os algoritmos podem atrapalhar. Eles sabem atrair, mas nem sempre para o melhor conhecimento. Somos expostos a muita informação desnecessária ou imprecisa, o que causa um desvirtuamento”, avalia.

Perspectivas

Além dos atuais participantes, o projeto deve ganhar muitos outros, ainda este semestre. O professor Amarildo Pasini vai convidar docentes de diversos Departamentos para ampliar o foco, abordando solo, plantas, clima, animais e ações educativas. No momento, integram o projeto quatro estudantes de Agronomia e Zootecnia, mas serão convidados outros, de Biologia e Veterinária, para promover integração entre áreas. Pesquisadores da UFPR e Unioeste também serão convidados.

Neste semestre, há quatro alunos desenvolvendo Trabalhos de Conclusão de Curso com temas ligados ao projeto. De fato, o professor Pasini já orientou perto de 60 pesquisas de pós-graduação e mais de 30 de graduação. Vale citar ainda que o projeto produz conteúdo para o Instagram: @entomologia.agricola.uel.

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