Não perca a conta

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Atividades em projetos que dialogam entre si e atuam na vida prática da comunidade marcam a curricularização da extensão no curso de Ciências Econômicas.

Com a Creditação Curricular da Extensão na UEL, estabelecida pela Resolução Conjunta nº 039/2021 dos Conselhos de Ensino, Pesquisa e Extensão, e Conselho de Administração (CEPE/CA), os cursos de graduação têm se concentrado em cadastrar atividades já existentes, criar, renovar ou reformular projetos.

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Edição número 1430
de maio de 2024
Confira a edição completa

De acordo com a professora Irene Domenes Zapparoli, seu departamento (Ciências Econômicas) possui atualmente 12 projetos de extensão, que mobilizam corpo docente e discente, além de outros colaboradores, com o duplo objetivo de prestar atendimento à comunidade e melhorar a qualificação dos futuros profissionais.

Irene, junto com os professores Emerson Guzzi Zuan Esteves e Aricieri Devidé Júnior, desenvolvem três projetos, de certa forma integrados, considerando sua atuação e formação profissional. Os próprios professores falam dos três como se fossem um só. São eles: Perícia Ambiental, Economia Trabalhista e Economia Jurídica.

Coordenado pela professora, o projeto “Teoria e prática em perícia ambiental: compartilhamento de saberes em londrina e região” existe desde 2022 e consiste em avaliar ações antropogênicas que causem danos ambientais e precisam de elaboração de laudos judiciais e extrajudiciais demandados pela comunidade.
O projeto nasceu de uma demanda de Cambará, município do Norte Pioneiro, limítrofe com o estado de São Paulo, a mais de 100km a nordeste de Londrina.

Prefeitura e Ministério Público daquela localidade solicitaram assistência em razão da coleta e tratamento de lixo, principalmente conscientização e orientação. Em resposta, foi criado, ainda em 2023, um projeto que oferece treinamento aos membros da cooperativa de recicláveis de lá – curiosamente, quase só mulheres – mas estende ações a escolas e, num futuro próximo, a toda a comunidade. Cambará tem cerca de 23 mil habitantes.

Conforme relata o professor Emerson, é importante conscientizar corretamente sobre os resíduos, sob pena de perder muito material que poderia ser reciclado ou vendido, e gerar renda. Ele conta que Cambará tem um aterro e, bem próximo, um barracão onde trabalham os coletores de material reciclável.

A professora Irene observa que os alunos envolvidos no projeto têm realizado uma série de ações, como preparar tabelas de preços de produtos recicláveis. O foco tem sido principalmente na cooperativa. Um próximo passo será saber, com mais detalhes, sobre os principais geradores de lixo da cidade: as residências. E sempre com um olhar de diálogo: “Eles têm muito a nos ensinar”, sentencia a professora. Ela já teve mostras destes outros saberes com o pessoal da cooperativa. Segundo ela, não são apenas coletores, mas dominam outras tarefas. Por exemplo, dirigir os veículos utilizados no trabalho, como uma motocicleta que traciona um carrinho, ou o caminhão que deposita material no aterro ou no barracão. “Elas possuem uma forte visão de si mesmas”, comenta.

Ainda são muitos os desafios, como os cuidados com a segurança, limpeza, preços baixos, alguma resistência a EPIs (equipamentos de proteção individual) e até a concorrência com os coletores informais. Por outro lado, a professora Irene coordena o projeto com a experiência de muitos outros projetos ambientais, orientadora de pesquisas e autora de oito livros sobre o tema.

Parte dos alunos que atuam em alguns dos vários projetos do curso de Ciências Econômicas.

EAAJ

Coordenado pelo professor Emerson, o projeto “Assistência técnica econômico-financeira ao Escritório de Aplicação de Assuntos Jurídicos (EAAJ) de Londrina visa desenvolver um processo contínuo de monitoramento e análise usando cálculos jurídicos nas menções econômicas no EAAJ e outros locais onde o Departamento de Economia for convidado.

Já o projeto “Assistência econômico-financeira nos processos trabalhistas: demandas de emprego e renda” é coordenado pelo professor Aricieri e objetiva desenvolver uma contínua atividade de monitoramento e análise com cálculos jurídicos nos processos trabalhistas junto a profissionais que demandem tais cálculos. A metodologia contempla a elaboração de pareceres técnicos e laudos trabalhistas, judiciais e extrajudiciais. Este e o anterior estão em execução desde o ano passado.
O professor Emerson informa que é um dos três docentes do Departamento que atuam como perito pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (Corecon/PR). Com esta expertise, assistem o Escritório de Aplicação de Assuntos Jurídicos da UEL (EAAJ) em demandas que exigem o trabalho do economista. Nas “sextas de extensão” (período estabelecido para as AEX, ou Atividades de Extensão), Emerson costuma reunir 15 alunos, no turno matutino, para discutir casos e fazer os cálculos pedidos. À noite podem ser AEX ou aula.

Foram as demandas que acabaram dividindo o projeto em dois, um para questões jurídicas em geral – como um caso de concordata, título de crédito ou o fim de uma sociedade empresarial – e outro específico de ações trabalhistas. Segundo a professora Irene, os alunos aplicam diretamente o que aprendem no curso, como cálculo de taxas de juros, câmbio monetário, financiamentos, entre outros. Cabe observar ainda que os serviços do EAAJ foram apresentados lá em Cambará. Foi apenas uma das várias ações que, na prática, integram os três projetos.

Paralelamente, o projeto define as melhores estratégias de atendimento à comunidade e treina os alunos, a fim de otimizar a operacionalização. E não se trata apenas do domínio técnico-científico das Ciências Econômicas, mas aspectos como a comunicação e linguagem. “Temos que traduzir o ‘economês’ para a comunidade, explicar de forma que compreendam completamente”, expõe Emerson. Para isso, ele já se valeu, por exemplo, de uma analogia com o futebol. “A gente pode ganhar, empatar ou perder”, diz ele. É um bom ponto de partida para falar de economia.

Professores Aricieri Devidé Júnior, Irene Zapparoli e Emerson Guzzi Esteves coordenam projetos que se articulam entre si.

Letramento

Um conceito até hoje empregado mais na área de Educação é utilizado pelo professor Emerson: o Letramento em Economia. Quando se fala em aprender a ler e a escrever, ou a conhecer o mínimo de Informática, usa-se “Letramento” (ou “Letramento Digital”) para designar um processo de aprendizagem mais complexo e mais completo, que leva em conta os saberes prévios do educando, assim como seu contexto familiar, social e até da escola. Letramento, portanto, vai muito além de juntar letras e formar sílabas, palavras e frases. Igualmente, um Letramento em Economia vai muito além da “Educação Financeira” de que se fala tanto por aí.

O professor Emerson explica que é até um pouco complicado precisar quantos estudantes participam de cada projeto, porque eles provavelmente passarão por todos e talvez outros mais. Em todo caso, ele calcula aproximadamente 60 alunos envolvidos, boa parte dos dois anos iniciais do curso. “Muitos alunos se identificam com esta ou aquela atividade e querem se dedicar mais, mas sempre com muita objetividade”, acrescenta a professora Irene. A disseminação, por outro lado, já tem sido feita. A professora conta que já concedeu várias entrevistas a veículos de imprensa. “ A comunidade nos procura, seja apenas para orientação ou uma atuação mais ampla”, diz.

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