Diálogos entre Brasil e Chile

Diálogos entre Brasil e Chile

Avançar na produção do conhecimento e aprender mais sobre desafios particulares e em comum são alguns dos objetivos da parceria.

O projeto de pesquisa “Produção do conhecimento e pesquisa social: diálogos entre o Serviço Social Brasileiro e Chileno”, coordenado pela professora Sandra Lourenço de Andrade Fortuna, é um daqueles casos em que a oportunidade germina em solo preparado. A professora já conhecia, há cerca de 20 anos, o colega da Universidad de Bio-Bio, de Concepción (Chile), Javier Antonio León Aravena. Trata-se de uma instituição estadual (mas não gratuita) fundada em 1988, multicampi, com mais de 10 mil alunos.

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Edição número 1431
de junho de 2024
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Em julho de 2019, o professor Javier esteve na UEL para uma série de atividades. Participou como palestrante em várias mesas de um Congresso Internacional, proferiu aulas e foi membro avaliador de bancas. Também é membro do Conselho Editorial da do periódico Serviço Social em Revista da UEL (Qualis A2). Foi aí que uma ação de internacionalização começou a ser sistematizada com o objetivo de ampliar as pesquisas e fortalecer o diálogo. No mês seguinte o projeto foi cadastrado, e entrou em fase de execução em outubro daquele ano.

Veio a pandemia. Porém, não parou o projeto. “Começamos a realizar encontros remotos periódicos com professores de várias áreas temáticas. Logo, havíamos extrapolado a análise da produção bibliográfica inicialmente proposta. Também fizemos várias lives, incluindo uma aula inaugural”, relata a coordenadora. A professora é ainda avaliadora de uma revista chilena e em julho irá para Concepción, onde – a exemplo de Javier aqui – participará de uma série de atividades acadêmicas.

Para o professor, o intercâmbio é necessário e positivo para todo o continente, inclusive na formação profissional, que passa pela discussão dos currículos. A ênfase, segundo ele, é no diálogo, no aprofundamento dos temas e na concretização dos projetos de cada instituição, com o reforço da mobilidade. Ele lembra que, ano que vem, serão comemorados os 100 anos da criação da Alejandro Del Rio, a primeira escola de Serviço Social da América do Sul, criada em 1925 num contexto de crise nacional para auxiliar a população chilena. Portanto, é um momento importante e oportuno para colocar em pauta os problemas sociais de lá.

“Temos nossos desafios particulares, em que a cultura conservadora do país colide com os valores da democracia”, diz o professor. Ao mesmo tempo, ele observava o cenário político brasileiro dos últimos anos. “Víamos o Brasil com assombro. Agora, com a volta do diálogo, esperamos avançar”, comenta Javier. De acordo com ele, são muitos os desafios por lá. Como exemplos, a assistência aos povos originários e aos imigrantes, além da pobreza e crime organizado. “Não vão faltar temas para discussão”, aponta. Com relação ao Brasil, ele afirma que respeita muito a produção científica daqui e vê uma oportunidade de aprendizagem mútua, pois também existem contradições e desafios em comum.

“Que modelo queremos para o século XXI?”, indaga o professor Javier León Aravena, do Chile.

Avanços e retrocessos

O que os pesquisadores têm observado é um movimento histórico de aproximações, avanços e retrocessos na formação, atuação e possibilidades profissionais. Em parte, isso se deve à influência do governo vigente, bem como outras forças. A professora Sandra cita um exemplo de avanço: nos anos 70 do século passado, houve uma reconceituação da profissão, que criou um marco teórico, um modo de pensar e agir como profissional do Serviço Social, a partir de demandas da realidade. Este modelo, mais crítico, foi se consolidando conforme a realidade de cada país.

Sandra lembra, entre outros pontos, que as Constituições passaram a prever direitos, mas diferem entre os países. Assim, distinguem-se igualmente as políticas públicas de cada um. Exemplo está na instituição onde trabalha o professor: é pública, mas não é gratuita. “Profissões são construídas, até diante da lógica do Estado e do governo, com seus modelos de educação”, expõe Javier. Outra diferença é que lá o profissional de Serviço Social pode se formar em nível superior (graduação) ou técnico.

Como existem desafios comuns, Javier entende que é preciso compartilhar conhecimento, refletir sobre a própria perspectiva de produção de conhecimento (com vistas à formação profissional) e colocar os direitos sociais no centro das atenções. “Que modelo queremos para o século XXI?”, ele indaga. É um dos pontos em que o projeto objetiva contribuir.

Para a coordenadora, o importante é pensar e aprender coletivamente a realidade do continente, e trabalhar pelas aproximações e avanços.

“Nos anos 70, houve uma reconceituação da profissão, que criou um marco teórico,
um modo de pensar e agir como profissional de Serviço Social”, explica a professora Sandra Lourenço.

Cenário

Conforme o professor chileno, seu país (que possui cerca de 20 milhões de habitantes) possui 45 cursos de graduação em Serviço Social, de duração de cinco anos, fora os cursos técnicos, que duram de dois a três anos. Também há dois Doutorados e vários Mestrados, só que lá eles são temáticos, como “Mestrado em Trabalho Social”, em “Política Social” e em “Desenvolvimento Territorial”. Envolvido no projeto, está um grupo de seis professores chilenos, que já publicaram estudos.
Do lado de cá, a coordenadora informa que o projeto conta com cinco estudantes bolsistas: um de Iniciação Científica, um de Mestrado e três de Doutorado. Já foram realizadas lives, conferências, orientações em todos os níveis (graduação e pós), além de participações em eventos científicos (como o EAIC – Encontro Anual de Iniciação Científica) e publicações. O atual projeto se encerra em julho, mas seu sucessor está sendo estruturado.

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