Estudante indígena mapeia desafios das escolas em terras indígenas no Paraná
Estudante indígena mapeia desafios das escolas em terras indígenas no Paraná
Ao defender TCC, Tereza Ferreira Souza expõs as dificuldades para garantir ensino de qualidade e acesso pleno à educação nas aldeiasNo dia oito de outubro, Tereza Ferreira Souza, estudante indígena do curso de Geografia da UEL, defendeu seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre a “Cartografia das Escolas Indígenas do Paraná”. Orientada pela professora Margarida Cássia Campos, a pesquisa trouxe à tona as dificuldades enfrentadas por escolas em terras indígenas no estado, que, embora essenciais para a preservação das línguas e culturas indígenas, ainda carecem de infraestrutura e cobertura adequadas para todos os níveis de ensino.
Aprovada com nota máxima pela banca formada pela professora Jeani Delgado Paschoal Moura e pelo professor Wagner Roberto do Amaral, o trabalho de Tereza não apenas alcança um feito acadêmico, mas levanta uma discussão fundamental sobre o papel e os desafios das escolas indígenas.
O mapeamento das escolas e suas lacunas
Tereza escolheu a cartografia como uma ferramenta central para sua pesquisa, que revela como as escolas em terras indígenas do Paraná são distribuídas e aponta necessidades específicas dessas comunidades. Em sua análise, ficou evidente que, embora exista uma cobertura razoável para o ensino Infantil e fundamental, a oferta de ensino médio é insuficiente. “Tem muitas terras indígenas que não têm ensino médio. Eu, por exemplo, fiz o ensino médio na aldeia, mas, no ensino fundamental, tive que estudar na cidade e sofri preconceito”, relatou.
A falta de estrutura é outro problema recorrente. Em sua experiência de residência
pedagógica na aldeia Barão de Antonina, Tereza testemunhou a precariedade. “Não tinha nem quadro para escrever. Os professores tiveram que fazer uma vaquinha para poder comprar um”, recorda.
O mapa como uma ferramenta de resistência
Orientadora de Tereza, a professora Margarida enfatiza a importância do uso da cartografia. Para ela, o mapa, tradicionalmente utilizado como instrumento de poder das classes dominantes, está sendo ressignificado por estudantes indígenas. “A Tereza, como uma sujeita contra-hegemônica, utiliza essa ferramenta para revelar falhas e desigualdades no espaço geográfico”, explica.
A cartografia permite expor o quanto o atendimento educacional nas terras indígenas precisa de investimento. Em alguns casos, as escolas sequer aparecem nos registros oficiais, dificultando o planejamento de políticas públicas mais eficazes. Para Tereza, a luta é para que todos os estudantes indígenas possam concluir sua educação básica sem precisar sair de suas comunidades, o que reduziria o impacto do preconceito e a adaptação difícil que muitos enfrentam ao serem forçados a estudar fora da aldeia.
O direito à educação e o futuro das escolas indígenas
A pesquisa traz um olhar atento sobre o quanto o direito à educação ainda precisa ser garantido para os indígenas. Para muitos jovens, sair da aldeia para estudar é um desafio que vai além do conteúdo acadêmico: envolve enfrentar o racismo e a dificuldade de adaptação. De acordo com ela, os indígenas se sentem mais à vontade nas suas comunidades e ficam mais retraídos fora delas, prejudicando até a interação em sala de aula.
Seu trabalho é um reflexo das políticas afirmativas adotadas no Paraná desde 2001, que permitem o ingresso de estudantes indígenas em universidades por meio de vagas suplementares. Margarida destaca a importância dessas vagas para garantir que, no futuro, existam mais professores indígenas em escolas nas próprias aldeias.
Outro destaque nesse processo é a Comissão Universidade para os Indígenas (Cuia), uma entidade que tem o papel de acompanhar os estudantes indígenas na UEL. O professor Wagner Roberto do Amaral, do Departamento de Serviço Social (Cesa), que fez parte da banca avaliadora de Tereza, é coordenador desde junho.
*Estagiário de Jornalismo da COM.