Plantas ornamentais: projeto investiga potencial da flora brasileira

Plantas ornamentais: projeto investiga potencial da flora brasileira

Pesquisa visa o estudo de espécies ornamentais nativas, que são cerca de 46 mil, ainda pouco exploradas pelos amantes de plantas e flores pelo Brasil.

Considerado megadiverso, o Brasil é o país que detém a maior biodiversidade do mundo. Pesquisas apontam que existem aproximadamente 390 mil espécies de plantas no planeta, sendo mais de 46 mil encontradas em solo brasileiro. Apesar de toda essa variedade, o mercado de plantas ornamentais nacional ainda é voltado para o exterior. Com o objetivo de conhecer e explorar melhor a flora do país, surgiu o projeto de pesquisa “Coleta, Identificação, Cultivo e Propagação de Espécies Ornamentais da Flora Brasileira”, do Centro de Ciências Biológicas (CCB). 

Plantas ornamentais são aquelas cultivadas pela beleza estética. Mas, como se define o que é belo? O coordenador do projeto, professor Cristiano Medri, do Departamento de Biologia Animal e Vegetal (BAV), explica que existem metodologias objetivas para definir se uma planta é ornamental ou não, de modo que algumas espécies se destacam em relação a outras, seja por suas flores, folhagens ou formatos. 

Para encontrar essas espécies com potencial ornamental, o projeto selecionou alguns pontos de busca e coleta no Paraná e em outros lugares do Brasil. No momento, os principais locais de trabalho são o topo do Morro da Pedra Branca, na Serra do Cadeado, no Norte do Paraná, e o Distrito de Lerroville. Também já foram feitas coletas em Guaraqueçaba, Pontal do Paraná, Ilha do Mel, Paraty (RJ) e no Parque Nacional de Itatiaia (RJ). Após o descobrimento e seleção dessas espécies, é iniciada a etapa de experimentos de domesticação, visando encontrar meios de cultivar, multiplicar e fazer elas sobreviverem fora do habitat.

“Nós tiramos essas espécies da natureza com autorização dos órgãos ambientais, em uma quantidade pequena, para fazer esses experimentos. Mas como fonte para o comércio, o habitat não pode ser, porque isso se caracterizaria em uma extração predatória. Se a gente ficar tirando do habitat, em 10 anos acaba tudo que tem lá, por isso que a gente precisa aprender a multiplicar essas plantas, produzir essas mudas em viveiro para não precisar retirá-las da natureza”, esclarece Medri. 

Em parceria com o professor Ricardo Faria, do Orquidário da UEL, são desenvolvidos diversos experimentos em estufas e laboratórios com essas plantas, como a germinação de sementes, propagação através de estacas e diferentes formas de cultivo. O projeto conta, ainda, com um telhado verde, onde também são feitos testes com as espécies descobertas. 

Professor Cristiano Medri, coordenador do projeto (Agência UEL)

Telhado verde

Desenvolvido há quatro anos na casa de Medri, o telhado verde é um experimento que visa à criação de um método de construção com baixo custo financeiro, sem muita tecnologia e que possa ser aplicado em estruturas de telhados que não foram construídos com esse objetivo. Nele, foi utilizado um substrato (base de sustentação para o crescimento da planta) de apenas cinco centímetros, de modo que o telhado não ficasse sobrecarregado e corresse risco de desabamento. “Para o cultivo, a gente selecionou espécies que crescem em cima de pedras, rochas e árvores. Fomos buscar na natureza ambientes semelhantes ao do telhado: muito sol, alta temperatura e pouco substrato. Assim, selecionamos plantas como bromélias, orquídeas e outras espécies para serem cultivadas aqui”, complementa Medri. 

As plantas cultivadas no telhado também são analisadas a partir de outros aspectos de domesticação e, de modo geral, vêm apresentando bons resultados. “A gente acompanhou o desenvolvimento das 55 espécies nativas em cultivo que temos aqui, verificando crescimento, sobrevivência, mortalidade, floração, produção de fruto, resistência à seca, entre outros. A maior parte das espécies que nós testamos, aproximadamente 50, desenvolveu-se muito bem. São plantas que são uma opção para a utilização em telhados verdes.”

O professor explica que os telhados verdes são uma boa alternativa para as cidades, que cada vez mais carecem de áreas para o estabelecimento de jardins. Desse modo, em um ambiente cercado por telhados, lajes e terraços, é possível aproveitar esse espaço para o cultivo de plantas.

O telhado verde da casa de Medri está sendo desenvolvido há quatro anos. Nele, são cultivadas bromélias, orquídeas e outras plantas com potencial ornamental (Foto: Agência UEL)

Importância ambiental

A partir dos resultados obtidos nesta fase, o projeto pretende, em uma segunda etapa, introduzir as espécies descobertas no mercado ornamental. Para que isso seja possível, os conhecimentos adquiridos serão repassados para produtores, floristas e paisagistas, permitindo que mais pessoas compreendam o potencial das plantas nativas do Brasil. 

Além da valorização da biodiversidade brasileira, Medri destaca a importância ambiental do cultivo dessas plantas. “A importância de utilizarmos plantas nativas no paisagismo não é apenas a questão de aproveitar o potencial ornamental das espécies que estão aí. Utilizar plantas nativas no jardim também é ecologicamente importante, porque elas estão envolvidas em relações ecológicas, permitindo que espécies de animais nativos se relacionem com elas.”

Essa interação entre os animais e as plantas nativas brasileiras está sendo investigada em outro estudo da UEL. Junto com um orientando, o professor Luiz dos Anjos, do Departamento de Biologia Animal e Vegetal, está fazendo um levantamento da interação das aves com o telhado verde e o jardim da casa de Medri.

Outro estudo desenvolvido na UEL faz o levantamento da interação de aves com o jardim da casa de Medri (Agência UEL)

*Estagiária de Jornalismo na COM/UEL.

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