Engenharia como nunca se viu

Engenharia como nunca se viu

Projeto de pesquisa investiga percepção do curso de Engenharia Civil aos olhos de quem o constrói: os próprios estudantes e professores.

Constante evolução e um curso melhor para todos. Esses são os objetivos do projeto de Pesquisa em Ensino “Percepção dos Discentes e Docentes em Relação ao Curso de Engenharia Civil”, do Departamento de Construção Civil (CTU). Em um momento de revisão e renovação do curso de Engenharia Civil, professores e alunos se uniram para formular um questionário que possibilitasse uma maior percepção das experiências, necessidades e ajustes, na visão tanto dos docentes quanto dos futuros engenheiros. Coordenado pela professora Heliana Barbosa Fontenele, do Departamento de Construção Civil, o projeto é composto por sete professores do Núcleo Docente Estruturante (NDE) do curso de Engenharia Civil, além de mais dois estudantes voluntários. 

A iniciativa é antiga: em 2016, já borbulhavam discussões e antigas versões do projeto atual. Com a reformulação do projeto pedagógico do curso, que entrou em vigor na turma de 2023, as ideias finalmente saíram do papel com a necessidade de um mecanismo de autorregulação.

“O projeto serve para avaliar tanto a percepção do estudante quanto a do docente. Para ambos, são seis questões, com a última sendo uma questão livre. São questões relacionadas a o que foi apresentado no plano de ensino, se o aluno se sentiu à vontade em cada disciplina, se ele se interessou etc.”, explica Fontenele. As perguntas abordam a parte pedagógica de cada disciplina, questionando se os objetivos foram expostos com clareza ou se o professor demonstrou se importar com o aprendizado da classe. “A mesma coisa foi aplicada para os docentes: se a turma se interessou, se ele sentiu motivação dos alunos durante as aulas e por aí vai”, complementa. 

A equipe do projeto. Da esquerda para a direita: professores Manoel Denis da Costas, Luciane Filizola, André Campos, Heliana Fontenele e Deize Dias; alunos Arthur Begnini e Julia Gozzo; e o coordenador de colegiado Carlos Alberto Prado (Fotos: Maria Dalben/Agência UEL).

Para analisar os resultados das pesquisas, a equipe processa as informações por meio de estatística descritiva, um método que se concentra em resumir e descrever dados de uma maneira simples e compreensível. Serão usadas técnicas como média e desvio padrão para se encontrar correlações entre as respostas. Segundo o professor André Campos de Moura, do Departamento de Estruturas, integrante do projeto, “é possível fazer estatísticas para entender se a quantidade de horas de aula está sendo suficiente, ou se o formato daquela disciplina, quando ela é dividida em teórica ou prática, está sendo aproveitada, por exemplo”.

Uma questão cultural

O primeiro questionário formulado pelo projeto foi lançado na primeira semana de dezembro de 2023. As perguntas chegaram no e-mail de 112 alunos do primeiro ano de Engenharia Civil, além de 13 docentes do curso. As respostas, mais especificamente a ausência de muitas delas, preocuparam a equipe.

“O motivo pode ser cultural”, pensa Campos. “É diferente responder algo que sabe que vai contribuir de alguma forma para o desenvolvimento do curso e responder algo que dá a impressão de que vai ser guardado e não será utilizado para nada. Este é o primeiro grupo de questionários, então, à medida em que nós formos analisando e tentando mitigar qualquer problema ou dificuldade detectados, os alunos vão perceber que isso está ajudando na melhoria do curso e dessa forma, culturalmente, eles irão querer ter mais participação”, avalia o professor.

Os professores estimaram uma taxa de 10% a 15% de adesão dos questionários por parte dos estudantes. Com o feedback, o período de duração da pesquisa foi estendido até depois das férias. Arthur Bosqui Begnini e Julia Nayra Gozzo, estudantes do terceiro ano de Engenharia Civil voluntários do projeto, passaram nas salas incentivando a participação das turmas e atuando como intermediários entre alunos e pesquisadores.

“Ainda é muito forte aquela imagem de que se você avaliou uma coisa negativamente, principalmente dentro da universidade, vai sofrer retaliação pelo professor, seja em sala de aula ou em nota de prova. Acredito que essa cultura seja muito forte e acabe trazendo medo para os estudantes responderem o questionário, mas é justamente o contrário: hoje em dia não existe mais essa prática. Quanto mais próximos formos, melhor”, afirma Julia.

A população de professores aptos ao questionário, ao contrário da de alunos, teve alta participação na pesquisa. Entretanto, como explica o coordenador do colegiado do curso, Carlos Alberto Prado, as ações de mudança só podem ser realizadas com um esforço conjunto. “Se os alunos quiserem e se organizarem, eles conseguem promover essas mudanças pedagógicas, e o formulário lhes dá esse poder. Os alunos devem se unir nesse momento, e o questionário é uma forma de união de certa maneira”. 

Construindo mudanças

Apesar das complicações, a equipe já tem novas estratégias para os próximos passos do projeto. “Minha expectativa é que no terceiro e último ano de projeto nós consigamos mudar um pouco essa visão, ter mais volume de informação e respostas para que consigamos ter algo concreto para conversar e para tentar ajustar”, explica Fontenele. “Nós começamos agora. Vamos alterar o momento de lançar o questionário, sentar e discutir novas estratégias, o que fazer e o que não fazer, o que deu e o que não deu certo e o que podemos aprimorar”. 

O maior propósito da iniciativa, de acordo com Begnini, é a maior aproximação e colaboração entre alunos e professores, um cuidado que tanto ele quanto Júlia sentiram falta no começo da graduação. “O primeiro objetivo de estarmos aqui é esse, de dar uma sensação de integração entre os professores e alunos. Isso também é importante para se ter uma lisura do processo e passar a confiança de que ele será implantado”. 

“Nós só queremos que o curso seja ótimo em todos os sentidos e que as experiências dos alunos aqui possam torná-los ótimos profissionais”, comentam Arthur e Julia.

As respostas do questionário estão sendo avaliadas pelo projeto e serão usadas como experiência para os próximos que virão. A equipe vai acompanhar a turma de Engenharia Civil que entrou em 2023 até o final de seu ciclo na Universidade. Dessa forma esperam, segundo Campos, que “a cultura de participação das turmas melhore a cada ano: no segundo, já teremos uma porcentagem de participação maior que no primeiro e no quinto ano, se tudo funcionar, serão quase 100% dos alunos respondendo os questionários”. 

*Estagiária de Jornalismo na COM/UEL.

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