Mostra “Cartas para Nitis” resgata contribuição de Nitis Jacon
Mostra “Cartas para Nitis” resgata contribuição de Nitis Jacon
Atividade está incluída na Semana de Recepção da UEL. Legado da ex-vice-reitora da Universidade será lembrado por meio de grupos de teatro.A mostra teatral “Cartas para Nitis” abre, desta quinta-feira (20) até domingo (23), com a apresentação de oito espetáculos e a leitura de sete cartas a Nitis Jacon, em apresentações gratuitas no Cine Teatro Ouro Verde e na Divisão de Artes Cênicas (DAC) da Casa de Cultura da UEL. Ingressos disponíveis para retirada a partir das 17h30, na DAC (Avenida Celso Garcia Cid, 205) e às 19h, no Ouro Verde (Rua Maranhão, 85). Iniciativa da Casa de Cultura, em parceria com a DAC e o curso de Artes Cênicas, a mostra integra a programação de recepção aos calouros e é também uma oportunidade para que os novos alunos conheçam os espaços culturais da UEL, além de aprender sobre a história e as contribuições de Nitis Jacon. A atividade está incluída na Semana de Recepção (SER UEL) 2024, da UEL, como um evento complementar.
A criadora do Festival Internacional de Londrina (Filo) projetou a cidade e trouxe a Londrina as maiores referências do teatro e da dança. Também fundou o grupo Projeto Experimental de Teatro Universitário (Proteu) e foi vice-reitora da UEL (1994-1998), atriz, produtora cultural e médica psiquiatra. Ela morreu em dezembro do ano passado, em Arapongas, aos 88 anos. Nitis também colaborou na criação do curso de Artes Cênicas da UEL, no final dos anos 90. Ela deixou a universidade em 2002 para assumir a diretoria do Centro Cultural Teatro Guaíra, em Curitiba, onde atuou por três anos.
Diretora da Casa de Cultura, Marta Dantas diz que a história de Nitis na UEL inicia em 1972, na Coordenadoria de Ação Cultural, criada para as atividades de extensão da Universidade. Nitis respondia pelo setor de teatro da unidade. “Essa coordenadoria, mais tarde, se transforma na Casa de Cultura. E a Nitis estava ali, na origem: Casa de Cultura e Nitis inseparáveis. Mais tarde, nos anos 90, Nitis e o curso de Artes Cênicas da UEL. Também inseparáveis”, contextualiza.
Marta diz que antes mesmo de entrar na UEL como professora do Departamento de Artes Visuais, em 1998, já conhecia o trabalho de Nitis por meio do Filo. Ela morava em Assis (SP) e vinha assistir aos espetáculos do festival de teatro em Londrina, no início dos anos 90. “A carta de apresentação da UEL, para mim, foi o Filo. Depois a Semana de Arte”, recorda.
“A Nitis participou da fundação do curso de teatro da universidade, deu aulas nas primeiras turmas e depois foi para a capital. Temos, atualmente, três professoras que foram alunas dela”, comenta o chefe da DAC e professor de Artes Cênicas da UEL, Aguinaldo Moreira de Souza, organizador da mostra junto com Marta Dantas e Sandra Parra, coordenadora do colegiado de Artes Cênicas.
Ele conheceu Nitis em 2001, quando foi contratado como professor temporário do curso. “Convivemos pouco, mas tenho lembranças interessantes. Todas as camadas do fazer artístico você via no trabalho dela. A natureza séria e rigorosa desse fazer. Porque não dá para ser artista sem rigor”, argumenta.
Souza disse que o formato da mostra busca unir o pessoal da tradição com gente formada por Nitis para apresentar, a quem está chegando à Universidade, a importância da criadora do FILO. “Também seu legado e um pouco da história do curso de Artes Cênicas, além de expor os espaços culturais da UEL”.
Todos os artistas e as companhias convidadas para a mostra se apresentam sem cobrar cachê. “A gente encontra esse sentimento de humanidade em quem tem um propósito”, avalia o chefe da DAC, grato aos agentes culturais que toparam compartilhar sua arte generosamente. A abertura será com o Ballet de Londrina. “É um presente para a cidade, para a Casa de Cultura e para os ingressantes. A companhia é uma preciosidade, um orgulho”, elogia Souza. Ele próprio integrou o elenco do Ballet de Londrina no início do ano 2000.
A companhia apresenta, nesta quinta, no Ouro Verde, seu trabalho mais recente “Humana Natureza”. “É uma grande honra para o Ballet de Londrina receber esse convite para participar dessa linda homenagem a Nitis Jacon, que será lembrada para sempre como uma das grandes personalidades do teatro brasileiro, que projetou o nome de Londrina para o Brasil e para o mundo”, diz o diretor da companhia, Marciano Boletti. O Ballet sobe ao palco logo depois da leitura da primeira carta para Nitis, pela professora da UEL Sonia Pascolati, do Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas. Ela é autora do livro “Bodas de café – Nitis Jacon de Araújo Moreira e Grupo Proteu”, lançado em 2019 pela Eduel.
“Acho importante, numa semana como essa, de recepção aos estudantes, mostrar essa força por trás desse direito ao curso de Artes Cênicas. A força feminina. Tenho grande admiração por esse legado deixado pela Nitis”, explica Pascolati, em entrevista à UEL FM. Ela conta que nunca conversou com Nitis Jacon. “O tom da carta é daquela pessoa que estudou a produção dela junto aos grupos que conduziu, especialmente o Proteu. E me aprofundei em uma das montagens, Bodas de Café. Gostaria muito de ter tido uma conversa, um bate papo com ela.
Por isso o título da carta: uma entrevista imaginada com Nitis Jacon”. A pedido da rádio, Pascolati gravou o início da carta. Na edição da emissora, tema musical
interpretado pelo violonista espanhol Andrés Segovia. O pai de Nitis foi um anarquista espanhol que, no Brasil, entrou para o Partido Comunista, como a própria Nitis contou numa entrevista de 1989 ao Jornal Nicolau, disponível no site da Biblioteca Pública do Paraná.
Ouça trecho da narração de Sonia Pascolati:
As outras cartas serão lidas por Thais D’Abronzo, Edna Aguiar, Camila Fontes (o texto foi escrito por Maria Fernanda Coelho, que, por não estar na cidade, pediu para Camila apresentar), Cláudio Rodrigues, Mario Fragoso e Mauro Rodrigues. Maria Fernanda conviveu com Nitis por quase 20 anos.
“Estou muito feliz e honrada de participar dessa mostra. Iniciativa muito necessária. Minha história com a Nitis é uma história de vida. Eu a encontrei numa apresentação do grupo Proteu, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O espetáculo era ‘Na carreira do divino’. Quando vi a peça tive certeza absoluta de com quem gostaria de trabalhar e com quem iria construir uma história. Essa pessoa era a Nitis. Fui para Londrina quase como uma criança, uma jovem que foge com o circo que chegou na cidade e pedi para participar do Proteu. Ela me aceitou”.
Maria Fernanda Coelho, atriz.
Ouça trecho do depoimento de Maria Fernanda Coelho à UEL FM:
Além do Ballet de Londrina, apresentam-se na mostra “Cartas para Nitis” os seguintes grupos/espetáculos: peça “Dancing Cuir” (curso de Artes Cênicas UEL); espetáculo “Leno queria nascer flor”, monólogo do ator Rogério Francisco Costa, do Núcleo Ás de Paus; “Auto Teatral Tentativas” (curso de Artes Cênicas UEL); Cia Cuerpo Abierto (Bogotá-Colômbia); peça “Réquiem para um Barbeiro”, da cia Os Palhaços de Rua, em solo de Adriano Gouvella; “Preta de leite cantando e contando Nitis Jacon”, da atriz Edna Aguiar; e o espetáculo “As Três Marias”, da Cia. do Terno.
Aguinaldo Moreira de Souza acredita que as cartas têm um tom de “endereçamento afetivo”. Ele não resistiu ao carinho de também escrever para Nitis e leu trecho na Rádio UEL FM. Logo no início, a recordação de que ela foi escolhida para dirigir a montagem de formatura da primeira turma do curso de Artes Cênicas. Na apresentação, Nitis saiu às pressas da coxia para socorrer um ator que despencou de cima das pernas de pau. “Com roupa de ensaio e calçando pequenos chinelos havaianas. Nesse momento, sua grande autoridade servia ao teatro, levantando o ator que havia caído. Essa imagem me é muito cara”.
Ouça trecho da narração de Aguinaldo Moreira de Souza:
Toda a programação está disponível na página do Instagram @teatroouroverdeoficial