Pesquisa analisa inserção de haitianos no território paranaense por meio do trabalho

Pesquisa analisa inserção de haitianos no território paranaense por meio do trabalho

Todos os dias, o Paraná recebe imigrantes de diversos lugares do mundo. Seja por catástrofes ambientais ou dificuldades econômicas e/ou sociais, o objetivo de quem deixa o país de origem é sempre o mesmo: conseguir melhores condições de vida. Buscando avaliar o sucesso desse propósito, a tese do doutorando Lineker Alan Gabriel Nunes investigou como […]

Todos os dias, o Paraná recebe imigrantes de diversos lugares do mundo. Seja por catástrofes ambientais ou dificuldades econômicas e/ou sociais, o objetivo de quem deixa o país de origem é sempre o mesmo: conseguir melhores condições de vida. Buscando avaliar o sucesso desse propósito, a tese do doutorando Lineker Alan Gabriel Nunes investigou como ocorre a inserção do imigrante haitiano no território paranaense. 

Intitulada “Migração e trabalho dos haitianos no Paraná (2010 – 2022)”, a pesquisa analisa a inserção do imigrante no estado  a partir da temática do trabalho. Eu falo de trabalho porque desde que comecei a pesquisar a migração haitiana, eu percebi que existe uma relação muito íntima entre o trabalho e melhores condições de vida, educação, lazer e outras questões da esfera cotidiana”, explica Nunes. 

Morador do município de Cascavel, no Oeste do Paraná, o doutorando se interessou pelo tema após notar um número expressivo de imigrantes, sobretudo haitianos, residindo em sua cidade. No Mestrado, a dissertação de Nunes investigou a relação dos estrangeiros com o trabalho especificamente em Cascavel. Para o Doutorado, a pesquisa de campo foi ampliada para outras cidades paranaenses: Toledo, Coronel Vivida, Londrina, Maringá e Curitiba, na busca para entender a inserção social desse público nos diferentes municípios. 

Sob orientação da professora Ideni Terezinha Antonello, do Departamento de Geociências (DGeo – CCE) da UEL, a pesquisa teve início com um levantamento bibliográfico de obras sobre trabalho e migração. Posteriormente, foi construída uma base quantitativa de dados desses migrantes haitianos por meio de informações da Receita, Polícia e Ministério Federal. Por fim, foram desenvolvidas entrevistas com imigrantes e pessoas que atuam junto a eles, através da metodologia de História Oral. “A técnica de história oral busca entender o processo de vida dos migrantes. Então, a nossa preocupação não era induzir as respostas deles com um questionário pronto, mas, sim, entender o processo histórico de vida desses migrantes, desde o Haiti até a sua inserção no Brasil”, explica a professora. 

Trabalho

De acordo com a pesquisa, existe um forte vínculo entre a presença de imigrantes haitianos em vários municípios paranaenses com a dinâmica produtiva de trabalho local. Devido a isso, Nunes acredita que um dos principais motivos que levam os imigrantes, não apenas haitianos, a se instalarem no Paraná é a busca por oportunidades de emprego. 

A partir da análise do tipo de trabalho no qual os haitianos estão inseridos, o doutorando dividiu o estado em três territórios: Oeste/Sudoeste, Norte e Leste. Nas regiões Oeste, Sudoeste e Norte, foi constatado que esses imigrantes normalmente trabalham em frigoríficos, na Construção Civil e em atividades produtivas locais, como a fabricação de móveis. Já no território Leste, os empregos estão voltados para atividades no setor terciário, com destaque para os supermercados. 

Apesar dessas serem as principais atividades desenvolvidas por haitianos nos municípios da pesquisa, Nunes pontua que existe uma minoria de imigrantes que ocupam cargos de níveis maiores, como é o caso do secretário de Juventude, Cidadania e Migrantes de Maringá, Emmanuel Predestin. Esse baixo número pode estar relacionado às dificuldades que esses grupos encontram para validar seus diplomas no Brasil, impossibilitando que exerçam sua profissão de formação.

Dentro da pesquisa, também foi feito um recorte de gênero, no qual foi constatado que as mulheres imigrantes têm muito mais dificuldade de inserção no mercado de trabalho e em outros espaços da sociedade do que os homens. “A gente percebe que além de um caráter racial, tem um caráter de gênero envolvido nessa dificuldade de integração na sociedade brasileira. A mulher haitiana, geralmente, tem mais dificuldades para falar o idioma, conseguir emprego e integrar todos os outros espaços. Isso ocorre tanto por conta de um machismo estrutural histórico do Haiti quanto por uma relação hierárquica brasileira em que as mulheres tendem a ficar mais nas comunidades junto aos imigrantes”, relata Nunes.

Políticas públicas

Dentro das relações de trabalho e, consequentemente, políticas públicas que envolvem os haitianos, Nunes explica que é necessário considerar a existência de uma série de ações do poder público, da iniciativa privada e individuais que participam da captação de força de trabalho e atuam junto a esse público, como Instituições, Organizações Não Governamentais (ONGs) e setores ligados às igrejas. Essas entidades contribuem para a união do grupo e ajudam na luta por melhores condições de vida, principalmente quando o estado é omisso. 

Segundo o pesquisador, apesar de o Paraná ter passado por avanços em relação às políticas públicas voltadas para imigrantes, ainda são necessários muitos avanços e melhorias que garantam uma boa qualidade de vida a essas pessoas. “Um dos pontos que conseguimos observar nas questões enfrentadas pelos haitianos e que dificultam essa inserção no mercado de trabalho e o acesso à saúde é o racismo e xenofobia”, explica Nunes. 

Futuro

Após a defesa da tese, que ocorre neste mês, Nunes pretende voltar a atuar como professor em Cascavel e continuar pesquisando sobre migração em projetos de pesquisa e extensão. Outro desejo do doutorando é atuar com os migrantes do ponto de vista da informação, ajudando, por exemplo, na leitura e entendimento de editais para trabalhos, estudos ou concursos que ajudem a melhorar a qualidade de vida dessas pessoas.

*Estagiária de Jornalismo

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