Convênio viabiliza cursos de capacitação para moradores de ocupações da Zona Sul
Convênio viabiliza cursos de capacitação para moradores de ocupações da Zona Sul
Objetivo a médio e longo prazo é aumentar a rede de apoio e trazer novos parceiros para implementar um cursinho na região.Da janela da Casa das Artes, centro cultural administrado pela Associação Londrinense de Circo, no número 325 da rua Tadao Ohira, Jardim Perobal (Zona Sul), a dura realidade dos moradores vizinhos se impõe sobre a paisagem que há poucas décadas era tomada apenas pela vegetação nativa. Com um dos maiores índices de vulnerabilidade social de Londrina, as residências de lona e madeira em áreas de ocupação irregular próximas foram erguidas a partir da demanda por moradia de quem ainda se encontra muito longe dos espaços de formação básica e da própria UEL. Em busca de oferecer cursos de capacitação e aumentar as chances de reinserção no mercado de trabalho de parte destes moradores, integrantes do Projeto de Extensão Práxis Itinerante, do Departamento de Ciências Sociais (CLCH), articularam a formalização de um convênio entre duas instituições. O objetivo em médio e longo prazos é aumentar a rede de apoio, trazendo novos parceiros para a implementação de um curso pré-vestibular gratuito na região.
“Esse aqui é o Jardim Perobal, uma extensão do Jardim Franciscato. Aqui ao lado, temos a Vila Feliz e, lá ao fundo, na beira do córrego, encontra-se o Jardim Novo Perobal”, aponta pela janela o coordenador do Práxis Itinerante, o professor Fabio Lanza. “A expansão urbana sem apoio do Estado não se encerra porque os processos de pobreza não param também. Mas, existem muitas outras localidades, até em situações piores”, lamenta, mencionando que apenas na ocupação do Jardim Cristal há aproximadamente 300 famílias que sobrevivem em profundas condições de vulnerabilidade.
Convênio
Em visita ao espaço cultural na manhã da última segunda (13), Lanza e dois alunos membros do projeto acompanharam a assinatura de um convênio firmado entre o Instituto de Tecnologia e Desenvolvimento Econômico e Social (Itedes) e o Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná (CIEE), que possui sede em Londrina há cerca de 30 anos. O Centro forma, atualmente, 1200 estagiários de nível médio ou superior e 301 aprendizes. Estiveram presentes o diretor-presidente do Itedes, Ulisses de Pádua Pereira; a coordenadora regional do CIEE, Roseli Marques; a coordenadora técnica de capacitação do CIEE, Livia Vivan Pagotti; o presidente da Casa das Artes e produtor cultural, Paulo Líbano, e o gestor do espaço, Sérgio Oliveira.
De acordo com Livia Pagotti, os cursos rápidos são voltados ao aprimoramento da linguagem e oratória, informática básica, autoconhecimento, administração do tempo, autoestima profissional, educação financeira, marketing digital, além de outros conhecimentos importantes para aumentar as chances dos candidatos de obterem sucesso em entrevistas de emprego. “Por mais que sejam cursos rápidos, de quatro horas, são conhecimentos que eles ainda não têm, para que possam ir a uma entrevista de emprego tendo no currículo algumas informações importantes. A partir do momento que nós conseguirmos empoderar esses jovens, eles conseguirão mais oportunidades”, avalia.
A expectativa, informa o professor Fábio Lanza, é de que as próximas ações sejam anunciadas em breve, ainda para o mês de março. Ele também explica que este convênio conta com a parceria da empresa da família Hatti, SIGMA – curso e colégio, tradicional cursinho preparatório pré-vestibular em Londrina.
Casa das Artes
Contando com um auditório, três salas de aula, banheiros e outros espaços divididos em 500 m² de área total, o centro cultural Casa das Artes funciona em um imóvel construído pela antiga Associação de Mulheres Batalhadoras do Jardim Franciscato. Conforme o produtor cultural Paulo Libano, que é mais conhecido pelo seu nome artístico “Palhaço Bokinha”, o imóvel chegou a ser um mocó e a ficar abandonado por cerca de oito anos, até ser repassado à Associação Londrinense de Circo (ALC), em meados de 2019.
Para ele, a parceria vai ser muito importante no sentido de buscas equiparar os moradores da região na “corrida” pela inserção no mercado de trabalho. “Essa é uma limitação muito grande que o território daqui sofre e com esses cursos eles vão poder se capacitar melhor”, diz.
Trabalho X Formação
“Precisamos associar a trajetória de trabalho à formação dentro da UEL ou da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), onde for. Porque, se focarmos apenas na formação, não vai funcionar. A realidade aqui não é essa. Então, o CIEE é uma forma de organização que consegue cuidar desse jovem para que ele chegue nas empresas. Na UEL, não conseguimos fazer isso”, pondera Lanza.
Resultado da atuação dos professores e alunos vinculados ao Práxis Itinerante, a formalização e o acompanhamento da parceria são apenas parte das ações realizadas pelo projeto em localidades periféricas da Região Metropolitana de Londrina (RML). Além de promover eventos, palestras e visitas à UEL, os integrantes do projeto vêm circulando por escolas da rede estadual de ensino buscando promover a conscientização dos jovens do 2º e 3º anos do Ensino Médio sobre uma série de possibilidades a partir do ingresso na UEL.
De acordo com Lanza, cerca de mil alunos foram atendidos ao longo de 2022, em ações que envolveram também a doação de livros. As unidades visitadas foram os colégios estaduais Albino Feijó Sanches (Parque das Indústrias), Thiago Terra (Jardim União da Vitória), Professora Rina Maria de Jesus Francovig (Parque Residencial Campos Elisios), Professora Vani Ruiz Viesse (Bairro São Lourenço), além da Escola Estadual Maria Aparecida Resignol Franciosi, no Assentamento Eli Vive, no Distrito de Lerroville.