Mas ela é feita com muito esmero

Mas ela é feita com muito esmero

Projeto de extensão prepara futuras mães com atividades em grupo e atendimento individualizado, da gestação ao puerpério.

O que é “ciclo gravídico-puerperal”? Este nome difícil designa um período que compreende um processo fisiológico que gera mudanças físicas, psicológicas e sociais na mulher e é influenciado por inúmeros fatores, biológicos e socioculturais. Vai da concepção do filho até semanas ou meses após seu nascimento, dependendo destes mesmos fatores.

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Edição número 1429
de abril de 2024
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É também um conceito essencial no projeto coordenado pela professora Roberta Romaniolo de Mattos, do Departamento de Fisioterapia, intitulado “Avaliação e intervenção da Fisioterapia no ciclo gravídico-puerperal”. Embora em execução desde setembro de 2022, este projeto é o herdeiro de muitos outros, que o vêm antecedendo desde 1992, com o conhecido Curso para Gestantes do Hospital Universitário da UEL.

Roberta foi estagiária no Curso quando graduanda, supervisionada pela professora Maria Aparecida do Carmo Assad, já aposentada. Voltou como docente e prosseguiu no projeto de atendimento às futuras mães, além de criar o GPEEGSP (Grupo de pesquisa, ensino e extensão na gestação e puerpério).

Antes realizado no Ambulatório de Fisioterapia do HU/UEL, o projeto é agora desenvolvido no Laboratório de Ensino de Fisioterapia, no Centro de Ciências da Saúde. Lá, dispõe de tatame, aparelhos (bolas, bastões, etc.) e outros equipamentos para os exercícios físicos. Também uma sala de aula e TV para orientações teóricas e ações de Educação em Saúde.

Atualmente, o projeto atende oito gestantes e há quatro na fila de espera, mas em razão do tempo de gestação: para participar, a mulher deve estar pelo menos na 16ª semana. De acordo com a coordenadora do projeto, não há adolescentes participantes. “Elas se sentem deslocadas, às vezes em razão até da situação familiar”. No momento, participam gestantes de 23 a 37 anos. “Mas já tivemos de 39, 40, 42 anos”, lembra a professora Roberta. São 13 encontros, cerca de três turmas por ano, mas existe o ingresso por fluxo contínuo.

O projeto, assim, reflete a realidade do serviço ginecológico-obstétrico do hospital, conhecido por atender gestantes com gravidez de alto risco. Já foram muitos atendimentos a mulheres com comorbidades como hipertensão arterial e diabetes, ou gravidez gemelar. “É rotina”, sentencia Roberta.

Queixas

Além disso, várias mulheres chegam com alguma queixa, como dor lombar ou cervical. Às vezes, ansiedade e medo da dor do parto. Como o projeto atua com um atendimento individual simultâneo, ele é sempre personalizado, ainda que algumas atividades sejam em grupo.

“Queremos oferecer a melhor gestação possível diante das mudanças ocorridas no corpo da gestante”, explica a professora. O preparo é para um parto normal, mas vale igualmente para cesariana. “A cesariana foi muito banalizada”, comenta Roberta. O atendimento, então, extrapola a fisioterapia e oferece orientação quanto a planejamento familiar, sexualidade (ponto importante, segundo a professora) e as emoções esperadas no puerpério.

Este aspecto é tão sério que se equipara a um luto: é o chamado “luto puerperal”, no qual (na primeira gravidez) a mulher perde a condição de filha para se tornar mãe; e, em qualquer caso, enfrenta a mudança no ambiente de trabalho e em casa; é ainda “invisibilizada”, pois depois do nascimento todas as atenções são para a criança. Às vezes o projeto atende mulheres no período puerperal, mesmo sem ter passado antes pelo curso.

A professora Roberta fala ainda de muitos mitos em torno do período gravídico-puerperal, esclarecidos pelo projeto. Por exemplo, aquele que diz que cerveja preta estimula a produção de leite materno; ou que chocolate provoca cólica no bebê; ou que café é terminantemente proibido. Os famosos desejos e aversões existem, mas não aqueles do tipo que aparecem às quatro da manhã com vontade de comer pudim de pequi com calda de coentro e cobertura de parmesão. Quanto às aversões, a mulher grávida pode ter náuseas só de sentir cheiros como suor ou perfume do marido – e esta aversão pode durar para sempre.

Acompanhante

Segundo a coordenadora, o projeto incentiva a participação de um(a) acompanhante em várias etapas do curso de preparação para o parto. Pode ser o marido, companheira, mãe, etc. “Tem que ser alguém que vai ajudar a cuidar da mãe e do bebê depois que nascer. Já tivemos ‘mãe solo’, separadas…”, ilustra a professora. Futuros papais participaram de rodas de conversa sobre o puerpério para compreender melhor esta fase sensível da mulher pós-parto.

“Queremos oferecer a melhor gestação possível diante das mudanças ocorridas no corpo da gestante”, afirma a professora Roberta (no meio).

Ao final dos encontros, o projeto promove algumas atividades sociais, como rodas de conversa e uma confraternização. A professora disse que é hábito produzir um “álbum” de fotos das gestantes, como recordação para todos. Muitas mães voltam ao HU, tempos depois, para mostrar o filho já crescido às novas turmas e à equipe que os acompanhou por tanto tempo.

Ensino e pesquisa

Embora configure um projeto de extensão, não é possível dissociá-lo de atividades de ensino e de pesquisa. No momento, ele serve de campo de estágio para quatro graduandos de Fisioterapia, do 1º ao 4º ano. Além da coordenadora, participam as professoras Adriana Paula Fontana Carvalho e Janaína Mayer de Oliveira, também do Departamento de Fisioterapia. Juntas, as professoras têm sete orientandos desenvolvendo trabalhos ligados ao projeto, além de dois da pós-graduação, da Residência de Fisioterapia em Uroginecologia, Obstetrícia e Mastologia, a primeira do tipo no Brasil.

O projeto já gerou várias apresentações em eventos científicos, publicação de dois artigos e em Anais, assim como trabalhos de conclusão de curso de graduação e pós-graduação (Residência). É possível saber mais pelo Instagram do Grupo de Estudos: @gpeegspfisioobstuel.

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