Osuel completa 40 anos como a orquestra mais antiga do Paraná
Osuel completa 40 anos como a orquestra mais antiga do Paraná
Desde o "Conjunto Música", criado em 1980, a Orquestra da UEL coleciona apresentações em Londrina e em todo o Estado na missão de popularizar a música de concerto.A Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina (Osuel)
comemora, nesta quinta-feira (14), seu quadragésimo aniversário. Com papel
fundamental no enriquecimento e estímulo à cultura clássica para Londrina e
região, a Osuel é marcante na paisagem musical do município, e suas quatro
décadas de história representam um tesouro cultural da cidade.
Em comemoração às quatro décadas de história, a Temporada Ouro Verde 2024, sob a regência do diretor artístico e regente Rossini Parucci, contará com uma temporada anual de concertos. Ao todo, serão 24 concertos, divididos em quatro séries temáticas com nomes de espécies de café, referenciando diretamente a história cafeeira do município, que comemora esse ano seu aniversário de 90 anos de emancipação política. As composições que compõe cada série foram escolhidas de acordo com a característica de aroma e sabor de cada uma das quatro espécies escolhidas: Arábica, Bournon, Catuaí e Conilon.
Os ingressos para a Temporada Ouro Verde 2024 podem ser adquiridos neste link.
Formação
Dia 10 de junho de 1982. Um novo capítulo na história da UEL começava a ser escrito, com a posse de Marco Antônio Fiori como reitor. Amante da música, assumiu com objetivos ambiciosos: a formação de uma orquestra sinfônica para a instituição – em um estado que, até então, sequer contava com uma orquestra.
Para a tarefa, o reitor contou com a parceria do maestro Othônio Benvenuto, então coordenador do Curso Superior de Música da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Benvenuto recebeu o convite da gestão da UEL para transferir-se para Londrina e iniciar o trabalho de criação da Osuel e reativação do Coro da UEL devido ao seu currículo extenso de atividades relacionadas à música clássica.
A primeira formação da Osuel foi um verdadeiro desafio para seus fundadores, que encararam uma realidade de baixo orçamento e falta de músicos, além de encontrar uma “pauta em branco” em uma Londrina dos anos 80 dessensibilizada quanto às veias artísticas e culturais clássicas. A orquestra, então, teve de escrever seus próprios caminhos e abrir suas próprias estradas.
Mira Benvenuto, filha do maestro Othônio Benvenuto e flautista da Orquestra da UEL nos anos 90, destaca que a criação da Osuel foi um marco importante para a cidade de Londrina, que na época carecia de tradição na música sinfônica. “ Londrina não possuía nenhuma tradição na área da Música Sinfônica. Já existia na cidade, no Colégio Mãe de Deus, o Curso Superior de Piano e excelentes pianistas e professoras de música, porém, na área de música de câmara e orquestrada existia uma lacuna”, conta.
Othônio Benvenuto, por sua vez, iniciou o processo de formação de músicos criando o ” Conjunto Música”, integrado por cantores e instrumentistas, e que atuou como uma base para a formação do que se tornaria posteriormente a Osuel.
A data de 14 de março marca a primeira apresentação do núcleo germinante da orquestra, que ainda contava com poucos músicos. No dia, na sede da Casa de Cultura, estavam presentes apenas o reitor Fiori e o repórter fotográfico da UEL Daniel Martinon, que eternizou o primeiro movimento da Osuel para o mundo.
A escassez de instrumentistas em Londrina levou muitos a aprenderem novos instrumentos, a fim de equilibrar os naipes. Outra dificuldade encontrada nesse período foi o fato de que os músicos que compunham a orquestra não podiam ser contratados pela universidade, uma vez que não existiam cargos específicos no quadro de funcionários da UEL. Os músicos, por sua vez, atuavam unicamente pela motivação que deu origem a orquestra: o amor à música.
O concerto inaugural da Orquestra da Universidade Estadual de Londrina ocorreu em 4 de dezembro de 1984, e contou com a participação dos corais da UEL, que também foram regidos pelo maestro Benvenuto. Um marco para a história cultural londrinense, o concerto da orquestra – que, na época, contava com 35 instrumentistas em sua composição – lotou o Cine Teatro Ouro Verde, dando início o que Mira chama de “época de ouro”. “Teatro Ouro Verde lotado, nas noites de estreia e os Concertos ao ar livre no Zerão também lotados. Podemos dizer que foi uma ‘ época de ouro’ da música em Londrina”, relata.
Dois anos após sua formação, a Orquestra da Universidade Estadual de Londrina deu mais um passo para se tornar aquela que conhecemos hoje: com sua formação composta por 65 artistas, orgulhosamente assumia o título de Orquestra Sinfônica.
A filha do maestro e fundador da Osuel fez parte da orquestra desde sua primeira formação, e atuou como 1ª flautista e solista por 10 anos. Ela afirma que, sem dúvidas, a atuação e paixão do pai pela música a inspirou a também se apaixonar pelo ofício desde a infância, passando por diversos projetos musicais sob sua influência. “Desde a infância fui integrante de todos os projetos musicais, iniciados em Londrina, Conjunto Música, Coro Piás, Coro da UEL e, depois, a Osuel”, relata.
A flautista se recorda com carinho de diversos momentos vividos, guardando memórias de diversos concertos. “Momentos que foram marcantes para mim, como a estreia da Orquestra, em que me apresentei e além de integrante. Fui solista, na flauta sopranino, tocando o Concerto n° 6 in G major, de Vivaldi. E também quando apresentei, como solista, sob a regência de Gramani, o Concerto n° 4 Opus 10 de Vivaldi, na flauta transversal”, conta.
Mira deixou a Osuel em 1995 e mudou-se para Tocantins, onde posteriormente fundou o Coral da Universidade de Gurupi (Unirg), e atuou na regência durante 10 anos. A musicista e regente também atuou como professora na área da Arte Educação na mesma instituição, onde permaneceu até sua aposentada da docência. Ainda hoje atua como flautista em grupos musicais do estado, mantendo seu vínculo ativo com a arte que foi e sempre será a paixão de pai e filha.
Sucessões com maestria
Em sua trajetória, além de Othônio, outros 11 maestros já passaram pela regência da Osuel, totalizando 12 maestros desde o início: Jose Gramani, Cláudia Feres, Norton Morozowicz, Evgueni Ratchev, Wagner Polistchuk, Martin Tuksa, Henrique Vieira, Elena Herrera, Maurizio Colasanti, Alessandro Sangiorgi e o maestro londrinense Rossini Parucci, que desde agosto de 2023 rege a equipe.
Cláudia Feres, terceira na linha de sucessão de maestros da Osuel, atuou como maestrina da orquestra no período entre 1991 a 1994. Com uma formação sólida em composição e regência em instituições como a Unicamp e a Northwestern University, de Chicago, Claudia trouxe consigo uma bagagem de experiência e paixão pela música ao assumir o papel de regente da Osuel em 1991.
Sua chegada à Osuel marcou não apenas uma nova era para a orquestra, mas também um momento histórico: ela se tornou a primeira mulher a liderar o grupo. Ainda assim, Cláudia afirma que isso não trouxe nenhum empecilho, descrevendo como positiva sua passagem pela regência da orquestra. ”Os músicos foram muito respeitosos. Tínhamos um ótimo clima de trabalho. O público também era muito caloroso e carinhoso comigo e com a Orquestra.”
Durante seu período a frente da Orquestra, uma das suas principais realizações foi a regularização da temporada de concertos do órgão, que até então não estava
sistematizada. Através do um trabalho árduo, a maestrina imprimiu uma personalidade à Orquestra, realizando concertos com programas consistentes e
solistas convidados, construindo uma sonoridade coesa e contando com uma grande variedade de repertórios.
Como resultado desse trabalho, Londrina consolidou seu público fiel a
orquestra, que já a acompanhava, e que viu seu interesse se fortalecer com o
passar do tempo. “Londrina era uma cidade muito receptiva à música de
concerto em geral. Além dos concertos no Teatro, fazíamos concertos ao ar
livre, em igreja, no Campus. Construímos um público muito entusiasmado que
lotava o Cine Teatro Ouro Verde”, conta.
Ao se despedir da Osuel Claudia deixou um legado de solidez musical
e estrutural. “Espero que ao fim de minha passagem pela orquestra tenhamos
conseguido trazer para o público um grupo mais sólido musicalmente e
também em sua estrutura”, reflete. Desde então, ela continuou sua
carreira musical, aceitando desafios em diferentes partes do país, mas sua
passagem pela Osuel permanece como memória e experiência
marcantes.
Outras atividades da Osuel
Desde a década de 90, a Osuel apresenta os “Concertos Didáticos”,
um projeto educacional que busca contribuir para a formação cultural dos
estudantes da rede de ensino de Londrina e região. Através de atividades como aulas-concertos e visitas monitoradas, os músicos apresentam aos alunos a estrutura e composição de uma orquestra sinfônica, levando a eles o contato direto com os instrumentos e suas importâncias na formação da orquestra. A atividade, assim, busca despertar o interesse pela música clássica, estimulando o hábito de consumo de música clássica às novas gerações, perpetuando na sociedade a importância da
música de concerto.
Outra atividade desenvolvida pela Osuel são os concertos populares,
realizados em locais como o Anfiteatro do Zerão e o Museu histórico de
Londrina. A prática, realizada desde o início da história da Orquestra, populariza e
democratiza ainda mais o acesso à música clássica.
A história da Osuel é uma celebração da determinação humana e do
poder transformador da música. Através do trabalho incansável de visionários
como Othônio Benvenuto, Claudia Feres e outros, a Osuel continua a inspirar
gerações de músicos e amantes da música em Londrina.
*Estagiária de Jornalismo na Casa de Cultura da UEL.